Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição

Foto: Geraldo Magela

Foto: Jean Chad
A Matriz de Nossa Senhora da Conceição é o mais valioso patrimônio de Cunha. A Capela de N. S. da Conceição começou a ser construída em 1730 em taipa de pilão, em terras de José Gomes de Gouveia uns dos primeiros povoadores da região do Facão em estilo barroco.
A imagem da padroeira foi trazida por Frei Manuel que chegou em abril de 1730.
A construção da capela foi iniciada com proporções modestas, de acordo com a ajuda das famílias que residiam na região. Predominou no altar-mor e altares de outras imagens o estilo rococó.
Foi inaugurada em 8 de dezembro de 1731 e foi sendo ampliada ao longo do tempo até atingir as proporções atuais.
Com o estabelecimento de paróquia na região, entre 1748-1749, a capela do povoado de Nossa Senhora da Conceição do Facão tornou-se sede da paróquia, oficializando-se a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Facão.
Durante o século XVIII começou a ser ampliada a partir de 1749. Depois, com a emancipação do município em 1785, ao passar para Vila, a igreja foi novamente ampliada e restaurada para o grande acontecimento.
Em seu interior, estão sepultados, restos mortais de importantes personagens de sua época.
No século XIX sofreu reformas de grandes proporções que teve início no ano de 1861 e se estendeu até o ano de 1873 por Leôncio Manoel da Costa Cagaré. A partir dessa reforma, a matriz passou a contar com 50 metros de comprimentos e 21 de largura.
Durante o século XX novas reformas e trabalhos de manutenção em sua estrutura foram realizadas provocando modificações no seu exterior e interior mantendo as características do barroco rococó no altar mor e altares laterais, todos os retábulos são de madeira.
Artigo publicado no Correio Paulistano quarta-feira, 26 de fevereiro de 1890 edição No. 10.042 Anno XXXVI – Noticias de Cunha:
A 15 de fevereiro de 1890 seguiu para a cidade de Lorena o Sr. Constantino Baldino, mestre pedreiro, estucador e empreiteiro de obras, vindo a esta para fazer o orçamento das despesas com as obras urgentes da nossa matriz, templo que mostra-nos o trabalho e força de vontade dos nossos avoengos e seu fervoroso espírito religioso e amor ao berço.
Sr. Constantino fez ao fabriqueiro da matriz, Sr. Benedito Pereira de Toledo as seguintes propostas:
- pela mão de obra pedio a quantia de 8:500$000 rs., para tomar a obra por empreitada a de 10:200$000 rs., pondo todas as paredes no prumo, telhado e madeiramento superior novos, templo todo forrado e pintado, incluindo o douramento dos altares e finalmente, propoz-se encarregar das obras mediantre 170$000rs., mensais, dando-se lhe casa e mobília.
Acreditamos dever ser preferido a empreitar-se a obra pelos 10:200$000 mediante o respectivo contracto
“A Matriz de Cunha se apresenta exemplar em sua conservação de igreja de uma só nave, ampla e iluminada. Na ornamentação do alta mor nota-se a influência recebida da igreja de Santa Rita, da vizinha e litorânea cidade de Parati (RJ), com as colunas salomônicas. Nos altares do arco-cruzeiro, verificam-se elementos semelhantes nos arremates superiores dos retábulos com a presença constante do símbolo do Espírito Santo, uma pomba, com resplendores que se multiplicam em outras igrejas.
Na Matriz de Cunha, o retábulo da Conceição contém vários dos elementos ornamentais da primeira fase do joanino, como os dois pares de grandes mísulas que ladeiam a boca do camarim sustentando colunas salomônicas com terço inferior espiralado e estriado e os dois terços superiores contendo ornatos florais nos sulcos entre as espiras do fuste. Os dois pares de colunas são encimados por fragmentos de arcos cujas linhas em volutas ligam-se mais ao rococó, como ocorre com os elementos folheares assimétricos aplicados a outras áreas do conjunto. Esse estilo está presente nos demais elementos ornamentais que compõem o coroamento do retábulo. Nos intercolúnios, peanhas e dosséis para abrigar imagens de santos. Tais retábulos possuem o coroamento com amplo resplendor com a alegoria do Espírito Santo em forma de pomba – fato comum nas igrejas da cidade vizinha de Paraty (RJ) que expandiu se pelo vale. Seu autor seria Pedro dos Santos.” (Retábulos Paulistas Dr. Percival Tirapeli – Universidade Estadual Paulista)
Segundo Cláudia Rangel especialista em Conservação e Restauro de Bens Culturais a Matriz de Cunha tem por suas características históricas e estéticas, sendo um dos patrimônios mais importante e relevante da cidade de Cunha e região do Vale do Paraíba Paulista.
“Com seu rico acervo de retábulos, esculturas douradas e policromadas, adereços e componentes litúrgicos, a Matriz de Cunha pode ser considerada um grande complexo religioso e artístico, permitindo aos fiéis, aos turistas, aos especialistas e estudiosos, conferirem as mais importantes etapas do desenvolvimento da História da Arte Brasileira entre o século XVIII até o início do século XX.
Os trabalhos de restauração e recuperação propostos devolverão, ás obras, seus aspectos estilísticos de leveza e refinamento originais, fatores estes que cumprem papéis tão fundamentais na arquitetura do século XVIII, reinserindo-as em seu lugar histórico sociorreligioso”. (Cláudia Rangel)
Texto: Cláudio Querido - Historiador
Referências:
TIRAPELI, Percival. Igrejas paulistas: Barroco de Rococó. São Paulo: Editora UNESP, 2003.
VELOSO, João José de Oliveira – A História de Cunha – 1600-2010 – Freguesia do Facão – A rota da exploração das minas e abastecimento de tropas- São José dos Campos – Editora JAC- Gráfica e Editora -2010
RANGEL, Cláudia, Projeto Restauração Bens Integrados – Matriz Nossa Senhora da Conceição – Retábulos/Altares – Nichos/Imagens -2017.
PAULISTANO – Correio – Notícias de Cunha – Quarta-feira, 26 de fevereiro de 1890 – Edição 10.042 – Anno XXXVI – São Paulo – pagina 1 coluna 7.